A Guerra, de José Jorge e André Letria – Editora Ameli

A Guerra, de José Jorge e André Letria – Editora Ameli

Há pouco mais de um ano tive o prazer de conhecer o livro A Guerra, escrito por José Jorge Letria e ilustrado pelo seu filho, André Letria. Antes mesmo de falar da história acho importante falar em como é significativo o esforço da editora Ameli em trazer para o Brasil obras estrangeiras dessa qualidade e com essa temática. A Guerra faz parte de um projeto da editora chamado Coleção da Cigarra, curadoria feita em parceria com a Daisy Carias. Não tinha como dar errado!

“A guerra invade o sono brando dos inocentes”

Muitas vezes nós, adultos, criamos um tabu em torno de temas delicados, como guerra, morte e abuso sexual, por exemplo, na nossa relação com as crianças. O que a gente teme, no fim das contas, é abalar sua inocência. Eventualmente pensamos em protegê-las do sofrimento. E eu entendo este instinto protetor. Entendo, sim, mas não acho que é o melhor caminho.

A Guerra é um livro que nos mostra como é possível trazer todo o peso e profundidade destas temáticas sem precisar ser chocante. O importante é fazer pensar e, principalmente, estar ao lado da criança para elaborar este pensamento e conversar sobre os efeitos nefastos dos conflitos. No enredo, acompanhamos a chegada da guerra, a sua impessoalidade, seus protagonistas, seus efeitos e suas vítimas com frases fortes e diretas, sem rodeios.

Nas ilustrações, pouca cor. Variações de preto, branco, cinza e um ocre bem sujo, lavado. A guerra não é colorida, no fim das contas. Alto contraste e uma simbologia interessante de alguns animais, sobretudo insetos e o corvo, figurando como componentes nojentos das batalhas. Eles invadem e rastejam tomando conta de tudo. São a forma do medo. As cenas variam de planos bem abertos e distantes – reforçando a impessoalidade – e detalhes tristes quando o “senhor da guerra” aparece. Este sim, maior interessado na destruição e no silêncio, é quem ganha com a guerra.

Aqui em casa, quando tivemos a oportunidade de ler, Gabriel – o mais velho, aos 8 anos na época – trouxe uma reflexão importante. “Pai, o moço que faz a guerra nunca está no campo de batalha, né?”. Exato. Eles são covardes, os que promovem a guerra. A ilustração e o texto ajudam nesta compreensão. E agora, quando se depara com as inevitáveis notícias e comentários sobre guerras e ataques ao redor do mundo, ele já é capaz de se compadecer das pessoas que sofrem, assim como identificar que só quem sai ganhando com essa história toda são alguns covardes.

 

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