O Coração de Corali – Resenha
Foi-se o tempo em que tratavam crianças como se fossem mini-adultos. Também já não vivemos numa época em que as crianças são tidas como sub-seres, ainda não preparados para o mundo real e todas as suas facetas. Mesmo assim ainda há muito o que melhorar quando se trata de comunicação e, especialmente, produção cultural voltada para crianças.
Um menino de 7 anos é capaz de elaborar teses profundas, talvez sem a riqueza de palavras de um pós-doutor em semiótica, mas com a simplicidade de um verdadeiro mestre. Uma menina, aos 5, pode ter uma “grande ideia” e inventar algo que, mesmo já existindo, é completamente original, porque é fruto do que vem de dentro dela.
E dentro desses meninos e meninas existe também o vazio. É disso que trata o emocionante livro O Coração de Corali, clássico da literatura infantil escrito em 1984 por Eliane Ganem e ilustrado por Elvira Vigna. Li a versão em e-book, no Kindle Unlimited (tá de graça para quem assina o serviço).
Afffff… que livro primoroso. Temos a história de Corali, que sente que tem um buraco em seu coração, e que enfrenta todo tipo de estratégia bolada por seus familiares para voltar a se animar. Quem nunca passou por isso? As coisas começam a fazer mais sentido quando Corali encontra alguém que não quer sumir com o buraco. Pelo contrário. Alguém tem empatia suficiente para ajudá-la a entender o seu próprio vazio e assim lidar com ele.
Falar de tristeza, solidão e depressão é possível em histórias para crianças, porque crianças também sofrem e, ao encontrar histórias em que possam se espelhar, se sentirão mais propensas a falar sobre tais sentimentos.
Quando li O Coração de Corali para Gabriel, numa noite chuvosa aqui em casa, ele me contou que às vezes sente um buraco no coração também. Reconheceu em Corali suas próprias faltas e pôs-se a contar de quem e do que sentia falta (da vovó e dos primos, da Fonte Nova e da praia). Compartilhou comigo o que faz quando se sente triste: “eu olho para as fotos deles. E quando eu não aguento mais, vou para Salvador”, contou. Aos 7 anos.
Sim, as crianças também têm o direito de “não aguentar mais” e esse é o grande valor do melhor livro que li em 2019 até agora.
Você já parou para pensar qual o tamanho do buraco no coração da criança ao seu lado? E no buraco do seu coração? Tem cuidado dele? Procure saber 😉
Toda segunda-feira vou publicar uma resenha de um livro infantil, ou de livros que marcaram minha infância de alguma forma. Quer sugerir algum livro para aparecer aqui? Mande um comentário ou responda às enquetes lá no Instagram @livrotecastorytime