Poesia de Castro Alves – “Bendito o que semeia livros”

Poesia de Castro Alves – “Bendito o que semeia livros”

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Pouca gente conhece verdadeiramente o conjunto de obras literárias de Castro Alves. Eu me lembro como se fosse hoje quando meu pai, que era diretor da escola em que eu estudava, veio conversar com a minha turma na sétima série (nós, com uns 13 anos) sobre nosso comportamento. Ele nos falou do quanto a educação foi conquistada a duras penas historicamente, e que, mesmo assim, é algo que nós devemos continuar conquistando todos os dias. E aí um milagre aconteceu. Ele, originalmente professor de física de cursinho, passou a declamar às lágrimas “Navio Negreiro”. Muitos de nós choramos também. E hoje, lembrando este momento, meus olhos também não poderiam ficar desérticos.

Quando chegamos em casa, disse a ele que não sabia que conhecia de cor a poesia. Eu, que sempre li muito e confiava em minha memória fotográfica, tinha reconhecido imediatamente as palavras enquanto ele as debulhava. A resposta de meu pai foi simples: “filha, não sei de onde veio, mas veio”. No outro dia, toda a escola recebeu cópia da poesia, que passou a fazer parte da agenda entregue no início do ano, nas páginas que vinham antes do hino do Brasil e o da Bahia.

Poeta Castro Alves e sua obra
Imagem retirada de site da Rádio Senado, feita em homenagem ao autor

“Navio Negreiro” está, sem dúvidas, na memória estudantil do brasileiro, normalmente como contextualização da escravidão nas provas, não é mesmo? Se quiser reler esta obra prima, é só entrar no site do domínio público do governo. Mas outras poesias incríveis deste grande escritor parece que foram esquecidas na nossa formação. Ele, que falou de tanta coisa, trouxe tantas perspectivas, que mudou o mundo.

Há uma poesia que fala especialmente alto para nós da Livroteca. Muitos do meio literário conhecem a frase solta, afinal fala de nosso instrumento maior, os livros(!), além de trazer o quanto o livro transforma.

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Trecho da poesia “O Livro e a América”, in: “Espumas flutuantes”, 1870

Este é um verso pequeno, mas forte e essencial. Para a poesia completa, é só olhar no site do domínio público também, mas quis trazer uns trechos para que a gente possa se banhar nesta fonte:

O Livro e a América
Castro Alves

Talhado para as grandezas
P’ra crescer, criar, subir,
O Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do porvir.
(…)

As cataratas – p’ra terra,
as estrelas – para os céus
Lá, do pólo sobre as plagas,
O seu rebanho de vagas
Vai o mar apascentar…
Eu quero marchar com os ventos,

Com os mundos… co’os firmamentos!!!
E Deus responde – “Marchar!”
“Marchar!… Mas como?…”

(…)

Filhos da Grande nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro – esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo

(…)

Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto –
As almas buscam beber…

Oh! Bendito o que semeia
Livros… livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É germe – que faz a palma
É chuva – que faz o mar.

Vós, que o templo das idéias
Largo – abris às multidões
P’ra o batismo luminoso
Das grandes revoluções

(…)

Fazei desse “rei dos ventos”

– Ginete dos pensamentos,

– Arauto da grande luz!…
Num poema amortalhada
Nunca morre uma nação

Como Goethe moribundo
Brada “Luz!” o Novo Mundo
Num brado de Briaréu
Luz! pois, no vale e na serra
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu!…

E vamos todos semeando livros de qualidade em nossas casas, nossas comunidades, nossas escolas, nosso cérebro, nosso coração. Os frutos virão!

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