Andreia Baleia, de Davide Cali e Sonja Bougaeva – Resenha
As primeiras páginas de Andreia Baleia, escrita por Davide Cali e ilustrada por Sonja Vougaeva, são de apertar o coração. Não apenas pela questão do bullying, mas também pela extrema força que Andreia faz para continuar indo às aulas de natação todas as quartas-feiras. Apesar de tudo.
Andreia é uma menina gorda que torna-se insegura ao frequentar um ambiente hostil para ela. Sente medo, fica ensimesmada, capaz de achar que ela tem um problema. Ela não gosta da natação. Não gosta da piscina. Será mesmo?
Como toda criança, ela está construindo sua identidade, desenvolvendo a sua percepção de corpo, e começa a sentir os conflitos de não fazer parte do “padrão”. E assim passa a se privar de coisas que até gosta, mas não se sente confortável para fazer.
Quem vai ajudar Andreia nessa jornada é seu professor de natação, que sugere que ela aborde seus problemas usando a própria imaginação. E é aí que as ilustrações de Sonja Vougaeva dão um show! Cheias de vida e de drama.
No fim das contas, temos uma história de superação, trazida para o Brasil pela Raposa Vermelha. Mas engana-se quem acha que Andreia ganhou forças ao conversar com o professor. Força ela já tinha, só pelo fato de colocar seu maiô toda semana e, mesmo sendo chamada de baleia pelos colegas de turma, pular na piscina. A superação origina-se em como o professor dá a Andreia uma perspectiva, uma estratégia, para lidar com a questão.
Mais confiante e mais consciente de si, Andreia supera outros traumas e outros medos que tinha, como o de um homem sinistro que sempre a interpela no caminho de volta para casa, por exemplo.
Acho que é uma maneira muito legal de introduzir dois assuntos em casa. O primeiro é sobre a percepção de si. Como a criança se enxerga? O que ela pensa sobre seu próprio corpo? Como podemos criar um ambiente para que toda criança possa sentir-se feliz e à vontade com seu corpo? Eu mesmo, que sempre fui MUITO magro, com pernas tortas e orelha de abano, custei a me aceitar como sou, e nunca tive a oportunidade de falar sobre isso quando criança.
O outro ponto é sobre como as crianças se comportam em relação às outras. Como sofrem a pressão dos colegas? Como pressionam os colegas? Em que circustâncias elas podem achar normal chamar um colega de “baleia”? Podemos descobrir que, apesar de não protagonizarem ações como essa, nossos filhos e filhas podem estar ajudando na criação de ambientes que deixam marcas profundas e muitas vezes negativas nos seus coleguinhas. E podemos descobrir também como os outros adultos – professores e cuidadores, sobretudo – estão lidando com a situação também.
Bem… o bom de Andreia Baleia é justamente que, de forma sutil, o livro abre portas e janelas para boas conversas sobre temas bem delicados.
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