O Menino no Espelho, de Fernando Sabino – Resenha

O Menino no Espelho não foi dos primeiros livros que eu li. Acredito que eu já tinha meus 13 anos quando ele apareceu na listinha de leituras obrigatórias da escola. E apesar de outras histórias terem sido importantes para minha formação enquanto leitor – O Menino Maluquinho, O Reizinho Mandão e Dilermano Constantino Albuquerque Raposo, o Morador Misterioso, também foram marcantes, por exemplo – foi esta surpreendente obra de Fernando Sabino que ocupou o lugar de livro favorito da galáxia até o início da minha vida adulta.

Embora seja um apresentado como um romance de dez capítulos, as histórias parecem independentes, como se fossem contos. As ilustrações sutis e feitas apenas com linhas pretas, ajudam a dar ao leitor o papel de completar as cenas. Toda a narrativa do livro remonta uma infância de imaginação fértil e aventuras impressionantes. Já no prólogo, o encontro entre o Fernando do passado com o do presente é de tirar o fôlego. “Pense nos outros”. Esse é o segredo para ser feliz por toda a vida, conta Sabino para ele mesmo.

“- Você quer conhecer o segredo de ser um menino feliz para o resto da sua vida?
– Quero – respondi.

O segredo se resumia em três palavras, que ele pronunciou com intensidade, mãos nos meus ombros e olhos nos meus olhos:

Pense nos outros.”

O Menino No Espelho
Fernando Sabino

O encontro desses dois Fernandos é uma forma do autor nos convidar a também abrir espaços para o encontro entre a criança e o adulto que estão em nós. O Menino no Espelho tem dois tipos de histórias: aquelas que impressionam pela sua verdade e simplicidade e as que impressionam pelos elementos fantásticos ou mágicos. E tem uma ou outra que são exatamente o encontro destes dois mundos.

Quando li pela primeira vez, 25 anos atrás, o Minha Glória de Campeão, capítulo VIII, foi o que mais gostei. Era fácil me imaginar, aos 13, entrar numa decisão de título do Bahia contra o Vitória, jogar ao lado dos meus ídolos, ter meu irmão mais velho como principal referência. Se era possível para Fernando, era possível para mim também.

Lendo o livro para esta resenha, com meu filho Gabriel, de 7 anos, encantado com as reações dele a cada palavra bem colocada do genial Fernando Sabino.

Atualmente, o Galinha ao Molho Pardo, o capítulo I, é o mais fascinante. Ele é um bom retrato de como a criança é livre para criar relações e compor universos. É um conto sobre inocência, amizade e crescimento.

O que é mais marcante do Menino no Espelho é que torna-se muito fácil estarmos nós diante do espelho ao ver as aventuras do pequeno Fernando, recriando as nossas próprias histórias, olhando para nossos próprios meninos, senhores da nossa existência.

Toda segunda-feira vou publicar uma resenha de um livro infantil, ou de livros que marcaram minha infância de alguma forma. Quer sugerir algum livro para aparecer aqui? Mande um comentário ou responda às enquetes lá no Instagram @livrotecastorytime