Não confunda, de Eva Furnari – resenha

Aqui em casa, alguns de nós sofrem de “confundite aguda”. O caso mais grave é o de Vanessa, que precisa sempre de três palavras até que a desejada seja proferida adequadamente. “Amor, tá calor! Liga o helicóptero? Liquidificador? VENTILADOR?”. E isso tudo fazendo o sinal de giro com um dos dedos em riste. O diagnóstico é mesmo “confundite aguda”, e acho que é contagioso. Gabriel, nosso filho mais velho, de vez em quando diz que quer comer um “Bate de Chocololo”. Sintomas deliciosos que nos fazem rir um bocado.

Por isso mesmo a leitura de Não Confunda, escrito e ilustrado por Eva Furnari e publicado pela editora Moderna, foi o maior sucesso! A autora brinca com construções triviais com suas rimas meio maluquinhas, típicas de quem vive se confundindo. “Não confunda mochila chocante com gorila mutante”, sugere o primeiro par de páginas. E essas casadinhas seguem até o fim, inesperadas, leves e… inconfundíveis!
Além da própria diversão de ver imagens non-sense, como uma gaivota bigoduda – que você não deve confundir com velhota nariguda, naturalmente – o livro nos abre uma porta para criar nossas próprias confusões! E para os que sofrem de “confundite aguda” por aqui, isso foi um pato feio… digo… um prato cheio!

O traço das ilustrações é mais caricatural do que realista e tudo é muito leve, ajudando a manter o clima mais fantasioso. Gosto muito dos detalhes sutis da moldura de cada imagem e muitas vezes me vi viajando somente nesse ponto.
Um comentário
Começo dizendo da minha grande admiração por Eva Furnari e suas obras, mas confesso que fui surpreendida com a imagem de um gorila travestido de homem, no livro Não confunda, que numa leitura feita há muito tempo atrás, não chamou a minha atenção para a mensagem racista que ela traz. Mas hoje, com ajuda de pessoas que vem estudando a questão do racismo estrutural, estou tentando estar mais atenta a essa questão. Penso que este gorila esteriotipada não cabe mais nas obras de Eva Furnari, autora renomada, que traz enorme contribuição a literatura infantil e que tem suas obras em larga escala nas escolas. Acredito firmemente que hoje, todos nós temos que ser antirracistas. Aqui, quem fala é uma avó, que ama ler para seus netos, e que está buscando ficar mais atenta as questões raciais que os livros infantis trazem, porque não basta não ser racista, precisamos ser antirracista. Obrigada pelo espaço de fala.